segunda-feira, 11 de julho de 2016

O Big Bang e a xenofobia

A opinião de muitos sobre xenofobia é como a teoria do Big Bang: efeito sem causa. Algo como o "motor primeiro" de Aristóteles.
Alguns apontam o "sentimento de superioridade" como causa da xenofobia e do racismo. Para esses, esse sentimento é próprio de certos povos e pode ressurgir nos genes e nas psiques dos descendentes deles, como um vírus que dormia. Outros creditam a xenofobia à ignorância das massas.
A ideia de superioridade de uma etnia sobre outra, ou de brancos sobre negros, é histórico-cultural, evidentemente, já a xenofobia, pode ter causas histórico-culturais e também pode ser provocada por condições econômicas e sociais.
A maioria das pessoas desconhece que a globalização foi ruim para a população pobre de muitos países, cujos empregos, salários e benefícios sociais e previdenciários foram reduzidos em consequência da transferência de transnacionais para países como a China. Ao refletirem sobre isso, as pessoas comuns escolherão como culpados os chineses, que "trabalham por baixos salários e em condições subumanas". A mesma opinião seria corrente no Reino Unido, em relação aos imigrantes. Estes provocam aumento de mão de obra e consequentemente desemprego e redução de salários, caso se dirijam em grande número para um país que não disponha de muito espaço e de muitos empregos.
Nos casos acima, creio não ser possível atribuir o sentimento de aversão aos estrangeiros a causas históricas e culturais, e sim a causas sociais e econômicas.
Portanto, a globalização pode ser ruim para os mais pobres, que passam a ganhar ainda menos, e ótima para as transnacionais, que passam a lucrar mais e a pagar menores impostos e salários.
O cidadão comum tende a concluir que os culpados pelo desemprego e queda no seu padrão de vida são os chineses ou os imigrantes. Uma boa parcela dos cidadãos mais bem informados, que leem jornais e revistas diariamente, aponta apenas os fatores históricos e culturais como combustíveis da xenofobia, ignorando os demais, escancarados a sua frente. Além disso, pensam ser a xenofobia provocada pela ignorância das massas. Ironicamente, eles encarnam o que dizem combater: o sentimento de superioridade. E nem ao menos têm razão no que afirmam, pois não é a ignorância dos pobres que os faz rejeitar imigrantes, e sim as condições sociais e econômicas ruins que recaem sobre eles. Na verdade, os pobres são sempre muito receptivos a imigrantes, desde que haja espaço e trabalho para todos.
Mas como alguém que não conhece essa camada social e as dificuldades que ela enfrenta pode tomar conhecimento de tudo isso? Resta-lhe o preconceito e o discurso do "vírus adormecido que ressurge do nada".

domingo, 5 de junho de 2016

Golpes parlamentares - silenciosos e baratos

Foi-se o tempo do golpe militar na América do Sul, hoje há um golpe mais sutil, o parlamentar. Ocorreu em Honduras, em 2009, e no Paraguai, em 2012. Se estivéssemos atentos ao que ocorre no continente, teríamos enxergado que o próximo seria o Brasil. Dilma deu sua contribuição ao trair o plano de governo apresentado à população, mas é preciso reconhecer que é muito difícil governar sem os abutres do Legislativo e do Judiciário, já alimentados e satisfeitos pelo generoso Temer. Crise? Resolve-se com cortes na saúde, na educação e nos programas sociais.

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Aculturação

Algumas pessoas vestem livros como quem veste roupas. Ostentar uma fantasia de Papai Noel em pleno verão tropical é algo que o próprio corpo reputa como sufocante e absurdo; quanto a vestir livros, a ausência de imagem e de sensação corporal torna quase imperceptível o ridículo da cena.

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Os filhos da santa e os filhos da puta

Ser filho da puta não é nenhum demérito. O cara poder ser um filho da puta e ser honesto, leal, bom pagador de impostos etc. E também pode não haver demérito em ser puta, haja vista as "polacas brasileiras", que até 1940 prestavam serviços aos machos deste país - maioria da população naquele tempo, portanto carente desse serviço.

Essas polacas eram judias polonesas pobres, sem dote para casamento, por isso eram traficadas para todas as partes do mundo, na maioria das vezes pelos próprios judeus, que as entregavam a outros judeus ou cafetões de outras origens em diversos países. Em São Paulo, a zona do meretrício dessas polacas localizava-se no bairro do Bom Retiro, um bairro que até hoje tem muitos judeus.

Essa pequena história pode ser a história de muitas prostitutas que são discriminadas e julgadas por uma sociedade incapaz de reconhecer a si própria como a origem de muitas condutas que condena. Dizer que políticos são filhos da puta não é ofensa, portanto, já que a maioria deles veio de respeitáveis famílias tradicionais, que prezavam a moralidade e os bons costumes e condenavam a prostituição.

Os verdadeiros filhos da puta - filhos da mulher objeto, da mulher escrava - estão nas periferias, e muitas vezes são esses filhos que levam as mães à prostituição, pois elas precisam alimentá-los.Há putas de outros tipos, há viciadas em drogas, há as que gostam do ofício, há pessoas que "dão um jeito" de saciar sua fome e a da prole sem se prostituírem, que pedem em vez de se prostituírem etc., mas a necessidade pode ser a causa principal da prostituição, assim como os "empresários" da prostituição podem estimulá-la através de atos lícitos e ilícitos.

Portanto, dizer que político é filho da puta é uma inverdade, já que a maioria é filha de uma santa e abastada mãe brasileira.

domingo, 22 de maio de 2016

Nunca ouça o Tiririca


Estávamos quase todos insatisfeitos com a submissão do PT ao sistema corrupto, o notório favorecimento que o partido sempre deu aos bancos, a política de juros altos que tornou impagável a dívida pública, o loteamento de cargos públicos entre políticos aliados, os privilégios dos servidores e autoridades, o desemprego, a inflação etc. Diante disso, pensávamos como o filósofo Tiririca: “Pior do que tá num fica”. Então Dilma cai, Temer assume, e descobrimos que Tiririca nunca foi filósofo. O vampiro chefe convocou uma tropa de vampiros sedenta de sangue, que sinaliza estar louquinha para morder a jugular dos trabalhadores. O vampiro chefe tem contido sua equipe, para não afugentar o rebanho, mas a escolha de ministros como Ricardo Barros (Saúde), do PP, que teve como maior financiador de sua campanha uma administradora de planos de saúde, revela o quanto a seleção de Temer está comprometida com o bem-estar social. É certo que Dilma mereceu o impeachment, pelo conjunto da obra, mas os que a substituíram merecem o mesmo fim, porém já não podemos contar com a Lava Jato e com os meios de comunicação para formar um consenso em torno desse assunto e poder levar um milhão de manifestantes a Paulista. Pior do que estava fica, Tiririca!

sábado, 21 de maio de 2016

Sobre os lobos de Wall Street e de Brasília

Olhar o mundo e os seres com olhos amorosos. Tocar o mundo e  os seres com mãos amorosas. Foram esses os melhores ensinamentos que li num livro de inspiração budista.

Os olhos humanos, assim como os dos cães, são mesmo a primeira e mais honesta comunicação entre os seres. Também os olhos da  maioria dos animais revelam, de imediato, agressividade ou receptividade, curiosidade ou impaciência.

Na infância, tínhamos olhos amorosos e mãos amorosas, e também recebíamos, quase sempre sem pedir, o calor e a ternura de olhos e mãos amorosos. Ao crescermos, parece que o amor à vida e à humanidade torna-se atributo de fracos e convém ter olhos de peixe morto ou de tigre enjaulado. Quão raros são olhos de céu azul numa manhã na orla. Ao contrário, a maioria dos olhos gritam "selva!", ou revelam uma Cordilheira dos Andes recobrindo sua  porção humana. Quão raras são mãos que sintam os objetos e seres, que não tenham com eles apenas uma relação utilitarista e fria como a relação de pés que precisam de escadas para chegar ao cume ou de mãos que precisam de cordas para sair de um poço profundo.

Queremos o topo da montanha - o altíssimo, frio e solitário topo - e cedo nos livramos dos incômodos olhos e mãos amorosos com os quais nascemos. Por isso esses olhares oblíquos e cabisbaixos, esses olhares indiferentes e secos, esses olhares de peixe morto e de hiena, para não revelar a própria essência, sobretudo a si próprio.

Talvez Rousseau estivesse certo ao atribuir à cultura essas nossas garras, presas e olhos de predador insaciável, já que não nascemos tigres (nem lobos). Somos condicionados a declarar guerra ao mundo, a sermos lobos do próprio homem para que possamos sobreviver. Então talvez não se trate de uma "natureza humana de lobo" (expressão absurda!), mas de cultura e instinto de sobrevivência.

Somos cordeiros em pele de lobos, pois a sociedade nos obriga a isso. Com o passar dos anos podemos nos tornar, definitivamente, lobos, se todos os resquícios de nossa essência forem apagados. Mas essa afirmação é estúpida, já que os lobos não são criaturas cruéis e desprezíveis como alguns homens que são chamados de lobos. Na verdade, os homens chamados de lobos são os homens que perderam sua essência de homens, sua capacidade de amar e respeitar, e esses não podem ser comparados a lobos, mas a psicopatas.